2021-11-14

ASI VE PORTUGAL EL CENTENARIO DE DOSTOYEVSKI DIARIO DO NOTICIAS

 

Exclusivo Fiódor Dostoiévski: bicentenário de um vendaval literário

Fez de uma vida trágica a inspiração para obras-primas como Crime e Castigo ou Os Irmãos Karamázov. Fiódor Dostoiévski nasceu há 200 anos e a Literatura nunca mais foi a mesma.

Como se distingue um bom escritor de alguém que atinge o cânone literário com um poder transformador comparável ao da mecânica quântica na física? Segundo George Steiner, através do efeito produzido em quem lê: "As grandes obras de arte passam através de nós como ventos de tempestade, escancarando as portas da perceção, forçando a arquitetura das nossas crenças com os seus poderes transformadores." No ensaio Tolstoi ou Dostoiévski (edição portuguesa Relógio d"Água, 2015), o ensaísta e crítico literário franco-americano falecido no ano passado, não hesita em aplicar estas palavras a Dostoiévski, que, nos 59 anos em que viveu, nos deixou obras tão marcantes na literatura mundial como Crime e CastigoO IdiotaHumilhados e OfendidosO JogadorRecordações da Casa dos Mortos e, como não poderia deixar de ser, Os Irmãos Karamázov, por muitos considerado o seu testamento artístico.

E, no entanto, esta luz que chega até hoje acendeu-se na escuridão de uma Rússia autocrática (e numa família em que o pai de Fiódor se comportava como um pequeno e despótico czar), em que milhões de homens e mulheres eram servos, no sentido medieval do termo, dos seus compatriotas (a servidão só viria a ser abolida por decreto do czar Alexandre II, em 1861). A 11 de novembro de 1821 (30 de outubro no calendário russo) nascia em Moscovo Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski, filho de Mikhail, médico militar e médio terratenente, e sua mulher, Maria, falecida ainda jovem. Não foi uma infância idílica. Na verdade, os biógrafos do escritor inclinam-se com frequência para a ideia de que o brutal patriarca de Os Irmãos Karamázov, Fiódor Pavlovich, se inspira no pai do próprio escritor, que alegadamente teria sido assassinado pelos trabalhadores revoltados da sua propriedade, quando Dostoiévski tinha 18 anos. Ao tomar conhecimento da notícia, dizem alguns biógrafos, o jovem terá sofrido a sua primeira crise epilética, enfermidade que o afligiria durante o resto de uma vida várias vezes visitada pela tragédia.

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